Polarização política e adoecimento

lenin

Ninguém pode sair incólume da exposição continuada ao material altamente tóxico como aquele encontrado na arena política polarizada dos nossos dias. Adoecem, indistintamente, à Esquerda e à Direita, todos os que se expõem, sem máscaras e filtros, ao ambiente insalubre do debate político. Os primeiros a serem vitimados são aqueles mais aguerridos, os mais apaixonados, uma vez que a paixão, por natureza, sente demais e não costuma pensar com clareza. Esse destempero conduz ao desequilíbrio certo e suas consequências são inevitáveis. Como é quase impossível, para a maioria, adotar uma postura estóica e desapaixonada diante dos fatos, e com isso fazer uma análise fria, o adoecimento avulta.

Estou certo que você já passou mal ao ler um “post” de um colunista da mídia profissional ou de um amigo que se atreveu a publicar uma opinião política contrária à sua. A polarização política em seu reducionismo ideológico, esquerdiza ou endireita, não admitindo uma zona cinza. É preto ou branco. Estamos definitivamente entrincheirados em nossas linhas, sem possibilidades de conciliar nossas cosmovisões conflitantes, o que nos incita, provocando erupções, emulando intrigas e destravando comportamentos perigosos. Veja-se o caso do atentado contra o então candidato à presidência, Jair Bolsonaro que, por pouco, não resultou em sua morte. O que dizer da revelação bombástica feita pelo ex-Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, que diz ter ido, armado, ao Supremo Tribunal Federal, disposto a matar o Ministro Gilmar Mendes e cometer suicídio em seguida!

As pautas de qualquer agenda política invariavelmente carregam em si algum conteúdo de teor polêmico, do grego polemos, que significa, literalmente, guerra. Em uma guerra as baixas são inevitáveis. Se o número de mortes físicas em uma guerra causa horror, não é menos dramático o número daqueles que tombam por causa da exposição contínua à tensão e aos efeitos do clima beligerante verificado nas escaramuças políticas. O embate de ideologias que produz o fenômeno social da polarização política tem sido responsável por adoecer a milhões, emocional e psiquicamente. Segundo a versão eletrônica da revista Veja de 27/09/2019, pesquisa feita nos EUA mostra que os efeitos da polarização política devem ser levados à sério.

“Um novo estudo, organizado pela Universidade de Nebraska-Lincoln (EUA) e publicado ontem (25/09/19), buscou dimensionar o impacto da polarização política no psicológico dos norte-americanos. Veiculada no periódico científico PLOS ONE, a pesquisa, de acordo com os cientistas responsáveis, indica um grave problema de saúde pública. Cerca de 40% dos 800 entrevistados afirmou que a atual situação política os estressa, enquanto 20% relatou sofrer de insônia por causa do assunto. Além disso, um quinto dos participantes do estudo contou que perdeu amizades por causa de discussões políticas. Um dos achados mais preocupantes, segundo os pesquisadores, foi o seguinte: 4% dos indivíduos que responderam ao estudo contaram já ter tido pensamentos suicidas por causa da política. Aplicado à totalidade dos norte-americanos, esse número equivaleria a 10 milhões de pessoas.” 

A Política tem muitas semelhanças com a religião. Tem seus ícones, seus ídolos, seus deuses. Tem também sua “fé”, suas crenças, doutrinas, e com tudo isso, ideias e propostas para a construção de um mundo melhor, uma versão do paraíso. Por essa razão, afeta mente e coração, alvoroça as emoções e provoca paixões incontroláveis a ponto de produzir o bloqueio das faculdades da razão. Quando isso acontece, os homens ficam fanatizados, cegos, insensíveis, brutos até… Tudo é justificado por suas crenças em seus simulacros de deuses. Religião, portanto, não é coisa dos conservadores corolas da Direita. A Esquerda também tem seus ídolos, suas seitas e seus credos. Ao contrário do que se imagina, conforme o livro Eles Profanaram o Sagrado, “Ninguém vive sem uma crença. O assento de Deus nunca ficará vazio. Se o Deus verdadeiro não estiver ali, outro, sem dúvida, vai ocupar-lhe o lugar, quer sejam os ídolos, os ancestrais, o sexo, o poder, a ciência, as riquezas, a fama… Enfim, aquilo ou aquele por que o homem vive e morre ser-lhe-á por deus.”

Será que vale mesmo a pena adoecer, matar e morrer por esses deuses? Certo que não! Não se exponha excessivamente ao debate radioativo, não adoeça, não “mate” os diferentes em nome desses deuses insanos, sejam líderes, sejam ideologias…. Preserve-se! Evite respirar o ar carregado das toxinas da polarização. Se não houver bom senso e coerência, caia fora! Não tente persuadir, a menos que peçam, honesta e sinceramente: Elucide, por favor! É óbvio que para tanto voce precisará de preparo. Se já o tem, parabéns, elucide, se não, eduque-se primeiro! Mas, por favor, não se exponha ingenuamente a todo conteúdo que publicam enlouquecidamente a cada minuto no youtube, no twitter e demais plataformas onde essa guerra está se travando. Para preservar sua saúde e evitar fazer parte das estatísticas que apontam o adoecimento relacionado à polarização aqui tratada, procure não frequentar esses ambientes especialmente na parte da manhã nem na hora de deitar… Se for entrar, certifique-se de que está bem protegido pela Armadura, com todos os seus ítens. Quem lê, entenda!