Pergunte ao Deserto

des

                                            (Novo livro de Luiz Leite)

Apresentação (trechos)

Conta certa tradição que todo homem deveria ir ao deserto para encontrar sua alma. O termo deserto que nos remete às grandes porções de areia, aridez e temperaturas extremas, que se encontram ao redor do planeta, aqui trata- se de uma metáfora que se refere ao continente pouco conhecido da vida interior. O autor apresenta um convite que desafia o leitor a matricular-se na academia onde estudaram e graduaram todos os notáveis de que se tem notícia. Embora não atraia a muitos, este sempre foi o caminho dos homens e mulheres que fizeram escrever seus nomes na história. Seus feitos não teriam sido possíveis se não tivessem passado pela estranha escola.

Todos eles, ao se internarem no deserto suscitaram perguntas pois o caminho do deserto destoa do arranjo da vida simples e familiar que se conhece. Pergunta-se: O que foram fazer lá? Depois de terem seus nomes gravados, não na areia, mas na face da rocha da história, os mesmos que indagaram acerca do que aqueles homens e mulheres incríveis foram fazer no deserto, perguntarão atônitos: Como os tais fizeram aquilo? Todas as proezas, todos os feitos admiráveis, não importa a área, são concebidos e gestados no deserto, na solidão fecunda da vida interior. (…)

Símbolo do vazio, o deserto é lugar onde não se encontra suporte para as vaidades humanas. Enquanto no mundo comum tudo é desenhado para nutrir a fogueira das vaidades, encher os olhos cobiçosos e prover material para alimentar o vazio do coração insaciável do homem, no ermo ocorre o oposto. Não se encontra por lá material para se construir monumentos ao ego. Não há plateia no deserto a quem representar. Não há por lá expectativas a preencher. Não é necessário caprichar no discurso para impressionar ninguém. Não existe pressão por desempenho. Lá podemos ver o rosto por trás das máscaras, sem make up! Desnudos, despidos, sem vestes impressionantes, sem títulos, podemos finalmente contemplar e admitir, sem efeitos ou recursos que melhorem a imagem daquele que somos de fato. No deserto não tem photoshop.

O deserto depura o ouro, separa o precioso do vil, e nos presenteia com as sementes de um poder insuspeito! (…)