O Inóquo Artifício da Queixa

O artifício inóquo da queixa

Por Luiz Leite

Zeus, o deus supremo dos gregos, apesar de conduzir-se de modo questionável para a nossa ética, pois que, juntamente com todos os outros condôminos do Olimpo, se prestava a intrigas e ciúmes próprias dos pecaminosos mortais, até que apresenta aqui e ali um julgamento coerente, como que atingido pelo lume do bom senso.

Na verdade o bom juízo de Zeus é produto da mente de um dos brilhantes filhos dos homens. Justiça seja feita, é Homero quem coloca nos lábios de Zeus a frase atribuída ao deus supremo dos helenos:  “(…) os homens estão sempre a censurar os deuses, porque dizem que os seus problemas vêm de nós; enquanto são eles que, pelos seus atos perversos, incorrem em mais problemas do que precisam.”

A frase, encontrada na “Odisséia”, é uma observação que expressa o enfado dos deuses, cansados de terem que ouvir dos homens que a culpa pelos seus infortúnios procede deles. Os deuses pagãos se cansam de tanta choradeira; até o DEUS! Ele é quem pergunta: “Do que se queixa o homem mortal? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados.” (Lm 3.39 )

As nossas queixas são quase sempre inóquas. Injustas até, em alguns casos, se observadas em seu nascedouro. É verdade que pessoas nos prejudicam e que uma nota de protesto terá o seu lugar em determinadas situações, mas a repetição indefinida da lamúria é um artifício sofrível. Nossos projetos desandam, na maioria das vezes, por falta de prudência entre outros ingredientes necessários na receita do sucesso. Os deuses, ou o DEUS, pouco tem a ver com esses desacertos que fazem com que os homens representem frequentemente aquele papel de paspalhos chorões.

Recuse-se a fazer coro com esses queixosos que vivem a lamuriar a sorte e nunca chamam a responsabilidade para si. Reconheça sua parcela de erro no processo, vire a página e prossiga… Se necessário, arque com o prejuízo porque na maior parte dos casos, o desgaste não valerá a pena, a menos que, entre o bom sono e a gastrite nervosa se escolha a última. Reclamar da sorte e dos deuses para justificar os impasses e entraves da vida é um expediente infantil, e pior, inócuo, pois de nada valerá para melhorar as circunstâncias já suficientemente sofríveis em que a alma moribunda se encontra.

O dia em que chegarmos à esse grau de amadurecimento certamente enfrentaremos os fatos de maneira mais serena e positiva, o que nos ajudará a encontrar saídas mais óbvias para os nossos dilemas. Não deixaremos de sofrer, mas uma coisa é certa, sofreremos menos, pois os queixumes incoerentes além de nada resolverem, ampliam o quadro de angústia fazendo com que soframos além da razão. Essa pode ser uma medida importante rumo ao ano que inicia, e que de novo nada terá se permanecermos repetindo a velha e enfadonha cantiga dos meninos e meninas que cresceram apenas cronologicamente.